São João de ruas

Por Mariana Moreira – As ruas se enfeitam. Barracas são montadas onde são expostos objetos que fazem parte da cultura e da experiência cotidiana de vida de seus moradores. Réplicas de casas de taipa ocupam os leitos das ruas nos transportando para tempos outros onde a rusticidade da vida sertaneja se traduzia em pequenas casas aconchegadas por um pote de barro onde o caneco de água saciava sede e trazia esperança. Em recatos de pavilhões improvisados, onde coloridas bandeirolas tremulam ao sabor da brisa junina, trios de sanfona, zabumba e triangulo nos transportam para os sons e deleites de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e memórias de infância e passado.
E as ruas ganham os tons, cores e sabores nossos.
Isso, porque uma ação da administração municipal retoma uma política iniciada em gestões anteriores e interrompida por outros governantes insensíveis a aspectos da vida do povo, não enxergando como governar pode ser uma prazerosa forma de humanizar um lugar. A retomada do concurso para escolha da rua que melhor se mostra como representante das tradições e do clima dos festejos juninos termina por movimentar a cidade e o município.
Mas não somente isso.
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As ruas que se candidatam, além de serem contempladas com o apoio financeiro do município, trazem embutidas em cada ação, em cada objeto, em cada música de forró, em cada bandeirola que tremula na brisa noturna, a marca da participação e do envolvimento da comunidade. Ou seja, um sentimento de pertencimento e de coletividade que se traduz num velho rádio de pilha que vai ornamentar uma prateleira, no fogão a lenha improvisado no cato da barraca e onde ferve, em uma panela de barro, um gostoso munguzá com feijão e toucinho de porco. Numa pamonha fatiada em um prato de porcelana e que é gentilmente oferecida aos membros do Corpo de Jurados convidados para escolher a rua mais representativa da época.
Assim, a cidade e o município de Cachoeira dos Índios, no Alto Sertão da Paraíba, retomam uma iniciativa que, pioneira, traz simplicidade e novidade para se festejar e, sobretudo, se atualizar as tradições e manifestações culturais. Pois, ao lado do fogão de lenha tinha alguém filmando com um celular. Ao lado do prato de pamonha e de canjica tinha alguém se deliciando com uma fatia de pizza. Ao lado de alguém com sandália de rabicho, camisa de chitão e chapéu de palha tinha alguém de bota de caubói e calça jeans.
Mas, o sentido da festa, que é celebrar os santos juninos como mote de unidade e integração dos sertanejos, continua e todos aguardam o próximo São João para apostar qual rua será melhor caracterizada.
E olhem o balão!
Não no céu, mas em nossos corações.
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