Você tem Palavra Quando Fala?
O homem necessita da palavra para se comunicar. Os primeiros habitantes construíram sintaxes e preposições com a devida necessidade de criar relações. A palavra sempre esteve a favor da comunicação intercultural e supraétnica, ou seja, a fala está ai para gerar sociedade, comunidade de diferentes, mas que utilizam seu igual – a palavra – para construir significados.
Todas as relações que são construídas através do uso da palavra, necessitam de critérios que estabeleçam com clareza os limites éticos do “palavreado”. Quer dizer, a nossa fala precisa ser balizada pela coerência ética da confiabilidade entre as pessoas envolvidas na discussão. Por exemplo: quando eu vou ao médico para me consultar, eu preciso confiar em suas palavras que constituem para mim em um diagnóstico verídico. Não é verdade? Portanto, a palavra precisa ser balizada pelo critério da confiabilidade. Imagine se todos os pacientes não confiassem nas palavras diagnósticas de todos os médicos! Tudo seria um tremendo caos.
É claro que este critério da confiabilidade não é construído apenas em meia hora de conversa ou dois minutos de consulta médica como acontecem em alguns Hospitais Regionais de uma cidade qualquer. Não. A confiabilidade é construída também a partir de um leque de fenômenos, entre eles: a cultura, os costumes, as tradições orais e escritas, a religiosidade, a política, entre outros. Por isso que muitas vezes é tão difícil de acreditarmos nas pessoas e no que elas afirmam sobre si mesmas ou sobre qualquer outro assunto. A confiabilidade nas relações é ingrediente cultural da vida de uma determinada sociedade ou grupo de pessoas.
A confiabilidade está intimamente ligada a uma outra questão que inferniza a mente das pessoas e por conseqüência as relações sociais em construção. Refiro-me a questão da verdade. As pessoas hoje desconfiam cada vez mais sobre a veracidade das palavras empenhadas e/ou acordo verbal ou escrito. Acreditar nas pessoas tornou-se muito mais difícil e heróico.
Quando é que alguém está falando a verdade? Quem me garante que aquela pessoa irá cumprir o que ela me prometeu? Será que ela cumprirá a sua palavra? Todos esses são questionamentos que surgem quando a coerência das palavras está ausente. Quando verificamos que inúmeras são as pessoas que não se empenham em cumprir o que dizem ou prometem; não são pessoas de palavra. Não são pessoas que constroem suas vidas no alicerce da coerência ética entre o que dizem e o que fazem.
Existe hoje uma imensa necessidade de pessoas que façam valer suas palavras não pela força, mas pela coerência e veracidade. Que acreditem em suas palavras não por que elas prometem lhes dar algo, mas por que se determinam em cumprir o que dizem. Geralmente pessoas sem palavras são pessoas com personalidades débeis e confusas. Pessoas sem palavras são justamente aquelas que não possuem referência de Identidade enquanto pessoas, mas passam a vida toda a buscar referencias alheias para si mesmas.
Vejamos como se refere à palavra o poeta Calos Drummond de Andrade: “Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol, dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.” A palavra constrói realidades insubstituíveis, incontestáveis.
Resta-nos agora instigar-nos o caro leitor, a saber, de si mesmo, se sua palavra é balizada por qual critério: o da conveniência, o da veracidade, o da mentira, o da soberba, o da humildade, o da verdade, o do proveito próprio….
Enfim, chega de palavras.
Para saber mais
FOUCAULT, Michel. A Ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
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