header top bar

section content

VÍDEO: “Me vejo como uma ponte para o futuro”, diz estudante sertaneja aceita em 7 universidades dos EUA

Direto da Alemanha, Alice dos Santos, natural de Nova Olinda, participou do programa Olho Vivo, da Rede Diário do Sertão, e falou da sua tragetória no Sertão e as expectativas para o novo desafio internacional

Por Luis Fernando Mifô

13/05/2025 às 17h29 • atualizado em 13/05/2025 às 18h02

“Hoje eu me vejo como uma pessoa que está construindo uma ponte”. A frase da estudante paraibana Alice dos Santos Araújo Lourenço, de 20 anos, durante entrevista ao programa Olho Vivo da Rede Diário do Sertão, denota, entre outras características, a consciência social que a jovem vem adquirindo ao longo da sua jornada educacional, que começou na humilde escolinha do sítio Saco, no município de Nova Olinda, localizado no Vale do Piancó, Sertão da Paraíba, e ainda tem um horizonte gigantesco de possibilidades para conquistar.

Ex-aluna do curso Médio-Técnico de Informática do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) – Campus de Itaporanga, também no Vale do Piancó, Alice alcançou um feito notável ao ser selecionada por sete universidades dos Estados Unidos entre 2023 e 2024. Ela conquistou uma bolsa integral na University of North Carolina at Chapel Hill (UNC-Chapel Hill), na Carolina do Norte, onde cursará Ciência da Computação e Educação a partir de agosto.

Direto da Alemanha, a estudante conversou com os apresentadores José Dias Neto e Priscila Tavares no programa Olho Vivo desta terça-feira (13). Ela se prepara para uma nova etapa de vida que poderá torná-la uma cidadã do mundo, mas as raízes em Nova Olinda, onde deu os primeiros passos na escolinha rural até chegar ao IFPB de Itaporanga, não são esquecidas pela sertaneja.

“Lá eu comecei a ter minhas primeiras inspirações para continuar motivada nesse mundo acadêmico, para estudar e sempre tirar notas boas. Até então eu não tinha ainda uma visão de futuro, o que eu ia fazer depois do Ensino Médio, não tinha noção de quais eram os passos, se eu ia para uma faculdade, se ia trabalhar, como é que isso funcionava. Só que eu fui vendo que alguns alunos, quando chegavam no nono ano, saíam da escola e iam estudar num tal de IF lá no campus de Itaporanga, e eu via que esses alunos também acabavam chegando em lugares muito incríveis. Às vezes eles iam para outra cidade apresentar projeto, faziam pesquisa, tinham acesso a várias oportunidades legais, e eu não via isso ainda na minha escola. São escolas de modalidades diferentes porque, mesmo ambas sendo públicas, a federal tem mais recursos para seus alunos”.

Estudante Alice Lourenço foi aprovada em sete universidades americanas (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes da graduação nos Estados Unidos, ela participou de experiências internacionais na Itália, Índia, Noruega e Alemanha, com foco em tecnologia, educação e cultura. O processo seletivo para as universidades americanas foi desafiador, exigindo proficiência em inglês, demonstração de impacto em atividades extracurriculares, cartas de recomendação, histórico escolar, documentação financeira e redações.

Pioneira no Vale do Piancó

Alice fez parte da turma pioneira do curso Técnico de Informatica do IFPB de Itaporanga. Naqueles anos, o primeiro projeto no qual ela se envolveu foi para desenvolver um protótipo de fechadura eletrônica visando mais segurança para os laboratórios da unidade. Estava dando ali os primeiros passos em direção à sua nova paixão: a utilização da tecnologia como ferramenta para promover transformações sociais nas comunidades.

A jovem também participou de um projeto de extensão na área de educação chamado “Programar no Sertão”, onde ministrava aulas de programação e robótica para alunos do 8º e 9º anos de escolas públicas. Além disso, trabalhou por três anos na ONG Tocando em Frente, também dando aula de programação e robótica.

“Trabalhando nessas duas organizações, juntando tecnologia e educação, eu vi que não só amava tecnologia, mas eu também amava muito educação, essa possibilidade de compartilhar com os outros o que eu sabia e tentar mudar a vida deles um pouquinho, tentar colaborar para tornar a vida deles um pouco melhor, e trazer mais jovens, mais meninas do nosso Brasil para a área de tecnologia. Essas experiências, no geral, não só me trouxeram conhecimento técnico muito forte e sólido, mas também me deram essa possibilidade de me conectar com outras pessoas”, ela relata.

Alice Lourenço na Alemanha e na Índia (Fotos: Arquivo Pessoal)

IFPB ajudou a sonhar mais alto

Alice recorda que quando estuvada o Ensino Fundamental na ECIT João Leite Neto, em Nova Olinda, já tinha a noção de que, após o Ensino Médio, faria o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para ingressar em algum curso superior. Só não sabia ainda, ao certo, quando isso poderia se tornar realidade, tampouco qual curso iria explorar. Foi no IFPB que sua visão de futuro começou a ficar mais clara.

“Toda vez que eu chegava no IF, eu tinha muito aquele sentimento de que eu posso fazer qualquer coisa aqui porque eu tenho esse conhecimento, tenho essa abertura, essa possibilidade. Então, indepedente dos resultados, eu pelo menos posso tentar.”

Ao passo em que começou a se envolver com a área de Informática e suas infinitas possibilidades, a jovem estudante também se deparou com uma realidade que pode ser bastante desmotivadora para muitas meninas: a ausência de mulheres na tecnologia e em posições de liderança, se comparadas aos homens. Contudo, Alice encontrou inspiração em outras alunas que, assim como ela, estavam tentando conquistar espaço, apesar das barreiras.

Alice Lourenço e colegas no IFPB de Itaporanga (Foto: Aquivo Pessoal)

“Hoje eu me vejo como uma pessoa que está construindo uma ponte entre esse mundo do interior da Paraíba, esse contexto geral do Brasil onde a gente ainda não tem tantas referências, com um mundo de inovação, um Brasil do futuro, que vai estar construindo inovação com tecnologia. Inclusive, um dos meus grandes sonhos para o futuro é colaborar nessa formação do Brasil como uma potência em tecnologia. E para transformar o Brasil nisso, a gente tem que levar essa educação de qualidade tecnológica não só para meninas, mas também para jovens no geral, para que eles possam ter acesso a esse conhecimento e, no futuro, poder vir a se tornar líderes e causar essa mudança no nosso país.”

Em 2023, Alice foi aceita em quatro universidades, mas não obteve bolsa suficiente. Em 2024, com apoio do University Placement da LALA e de seus professores do IFPB, foi aprovada em três instituições, optando pela UNC-Chapel Hill graças a uma bolsa integral concedida pela Fundação Behring.

DIÁRIO DO SERTÃO

Recomendado pelo Google: