Carta de Frei Antônio a Helder Moura

Por Francisco Frassales Cartaxo
Meu querido Helder
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo
Não estranhe receber esta carta. Sempre gostei de escrever, mesmo quando ainda morava em Cajazeiras, de onde sai para estudar, me ordenar e, depois, exercer o sacerdócio no caminho de Deus na Igreja e como professor. Andei por esse mundo maluco, mas nunca esqueci Cajazeiras, indo aí sempre que podia. Dessas idas, não me lembro de você. Será que a gente se viu alguma vez? Talvez no Casarão do Comandante, na igreja ou outro lugar? Tenho lembrança de muita gente, de Paulo Andriola, por exemplo, eu não esqueço, ele me ajudava a celebrar missa. Bom, você devia ser muito pequeno naquele tempo…
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Decidi escrever-lhe depois de ler com muita emoção seu livro, Maria Olívia. Fiquei verdadeiramente impressionado. Vocês (quem é Aíla Sampaio que você atraiu?), conseguiram arranjar uma saída interessante para o enigma que tanto procurei desvendar durante anos. Até comecei, sem ter condições de concluir as histórias que ouvia lá em casa, desde menino no casarão, lá na Quixaba, as pessoas falando baixinho. Tinha quase uma obsessão de conhecer, efetivamente, o que aconteceu a tia Olívia. Porque tanto mistério?
Preciso lhe dizer que sempre me intriguei com o desfecho, particularmente, com a história da morte, do enterro misterioso! Sabe, Helder, essas coisas crescem na mente da gente, não é verdade? Você deve ter vivenciado as mesmas suspeitas, por isso me transformou em personagem de seu romance… até muito parecido de verdade comigo mesmo! Ri à beça… estou com vontade de falar uma coisa, mas não gosto de ditado, tibes!
Helder, como você deve saber, eu abracei os estudos de sociologia religiosa, ensinei, pesquisei sobre muitas coisas, especialmente, temas ligados à Igreja, às religiões, dissequei aquela carta do padre Rolim ao presidente da província do Ceará sobre agricultura etc. Com essas incursões como escritor, meu olhar ficou viciado com os métodos acadêmicos. A gente marca um tema, avança, pesquisa, aprofunda quase caminhando na mesma estrada, às vezes, esquece os atalhos. Entende? Talvez a menina Aíla, por ser professora da área de letras, pelo que li no livro, tenha ajudado a compor com imaginação a trama tecida por vocês, no desenrolar da história de tia Olívia. E fizeram muito bem. Colocaram desvios na estrada para enganar o leitor. Tia Olívia deve ter achado maravilhoso!
Vou parar aqui, porque Ibiapina chegou.
Veio pedir emprestado o livro. Ele continua com essa mania de saber tudo sobre o povo do sertão, que ele ama! Você sabia que ele foi hóspede de vovô? E acertou com padre Rolim a construção da Casa de Caridade? E sabe quem doou o terreno, ali onde mais ou menos onde mora padre Gervásio? Vovô Comandante Vital.
Fique em paz com Deus e Nossa Senhora.
Frei Antônio
PS – Ibiapina quer saber se Aíla é descendente do governador Sampaio, que nomeou o pai dele como escrivão da Comarca do Icó.
Sócio da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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