Fonfon e o pôr do sol no Leblon

Por Francisco Frassales Cartaxo – Semana passada em crônica neste espaço falei de visita obrigatória que faço ao balde do Açude Grande, quando vou a Cajazeiras. Antes era em andanças matinais na companhia de caminhantes ouvindo fatos e fofocas. Agora a idade me faz lento no andar. Hoje a parede me compensa na contemplação da despedida do sol, lá nas bandas do Ceará.
Por isso o Leblon me atrai tanto.
Aquela área de lazer foi construída na gestão do prefeito Carlos Antônio, no começo do século, quando as emendas parlamentares eram magras. Nem o Pix existia no mercado bancário. Mesmo assim a maledicência popular cochichava. Em nossos dias, as emendas adquiriram outra natureza, dimensão e gigantismo. Mudanças na legislação a tornaram impositivas, bilionárias, disputadíssimas, fáceis de escoarem pelo ralo da corrupção, mercê do afrouxamento das regras para liberar verbas orçamentárias. Misteriosas e difíceis de fiscalizar. Daí serem tão cobiçadas por deputados e prefeitos. A mídia anda repleta de denúncias de desvios que enriquecem políticos, familiares, apaniguados, apoiadores, sobretudo em tempo de eleição.
Com essas preocupações cheguei ao Leblon.
LEIA TAMBÉM:
Sob o olhar do radialista Eutim Rodrigues, que tomava cerveja no balcão, provoquei Fonfon. Jesus falou: dai de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede! De cara, ele não me reconheceu. Ora, estava que nem turista, acompanhado da esposa e do sobrinho Roberto, que mora em Fortaleza. Avivei sua memória citando o tipo de rum que Ubiratan de Assis bebe… e a diferença entre as seis doses dele e só uma para mim!
Já acomodados, apreciando o pôr de sol, chegou água de coco. Gardênia Rolim, sobrinha que reside em Cajazeiras, também encostou. Estávamos perto do palco onde o professor Hytalo dava aulas de dança.
Conheci Francisco Feitosa como radialista da Rádio Cajazeiras, onde trabalha há mais de 30 anos. Cheio de presepadas folclóricas, sua fama foi longe! Montou seu bar, foi homenageado pelo bloco carnavalesco Cafuçu. Antes de sairmos, Fonfon veio ouvir elogios a seu sucesso e entrou no embalo com sua voz fanhosa:
– Sai no Fantástico… agora é que eu tô bombando! A repórter da Globo veio falar comigo.
Exultante contou um causo, dizendo que meu irmão Tantino quase morreu de rir quando ouviu. Um dos fatores para aumentar a popularidade de Fonfon é o presente que recebeu da generosidade de nosso conterrâneo Hytalo Santos, cuja imagem frequenta a mídia tradicional e redes sociais em embaraçosas situações que o levaram à prisão. Fonfon e outros amigos de Cajazeiras, talvez, ainda não se deram conta da gravidade vivida neste momento, com a Polícia Federal, Ministério Público, a Justiça realizando operações contra o crime organizado no Brasil. Os resultados escancarando as prisões, apreensões de computadores, celulares, papeis e volumes fantásticos de dinheiro vivo. Até fotos de deputado carioca deitado em pacotes de milhares cédulas do real.
Regressei de Cajazeiras sentindo mal agouro.
Sócio da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.

Deixe seu comentário