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Saulo Péricles

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O fentanil e a sociedade americana

20/09/2025 às 00h00

Coluna de Saulo Péricles - Frasco de fentanil usado em ambiente hospitalar. Imagem ilustrativa / Gerada por IA

Por Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira – Meus caros leitores: há uns quarenta anos atras ou mais, fui convidado pelo meu primo e na época diretor do Hospital do Câncer do Rio de Janeiro, Dr. Geraldo Matos de Sá, orgulho para nossa cidade que não tem nada em seu nome por aqui, enquanto nulidades absolutas são festejadas, ele, naquela casa mais importante no tratamento da oncologia no pais, nos deixou entrar em um apartamento, juntamente com algumas outras pessoas, com a permissão da família, e assistir um homem em seus momentos derradeiros, se despedir da família e ler trechos da Bíblia, logo depois, veio a falecer. Deixou esse mundo sem dor e com dignidade. Geraldo explicou que era por causa de um novo medicamento que era 100 vezes mais poderoso que a morfina e que permitia ao doente terminal conseguir ter a “morte digna”: esse medicamento se chamava “Fentanil”.

Guardei esse momento nas minhas lembranças como se guarda ouro dentro de um baú, tanto em homenagem a Geraldo, quanto a trajetória de tantos conterrâneos que se tornaram ilustres fora de Cajazeiras. Meu pai, quando Geraldo se formou, ele primo de minha mãe, o apresentou a seu colega de turma Jorge Marsillac, na época diretor daquele hospital, com a advertência de que passasse pouco tempo, pois a oncologia ainda era incipiente no nosso país, e haveriam muitos óbitos. Geraldo desobedeceu os conselhos e foi professor, e formou toda uma turma de grandes oncologistas do Brasil, e de seus alunos eu soube: ele dizia: “Eu sei de tudo”, e realmente sabia de todas as novas técnicas e tratamentos disponíveis no seu tempo.

Mas vamos ao que realmente me motivou a escrever essas linhas. Esse recurso terapêutico, que aqui no Brasil somente é encontrado em hospitais e tem um controle extremamente severo: vão tantas ampolas para uma UTI e somente se repõem com a devolução dos cascos das utilizadas; nos Estados Unidos, esse medicamento está disponível para qualquer cidadão que queira obter, assim como o crack e a cocaína também o são. Então um usuário usa e fica em extado de êxtase por um longo período, em diversas regiões e por parques e praças por lá. E em documentários aparecem cenas dantescas de usuários sob o efeito dessa droga super poderosa; um horror!

Então o “homem Laranja”, ao invés de combater com eficácia mais esse problema, acusa os outros países vizinhos por “deixarem entrar” o fentanil no seu território. Impondo tarifas adicionais ao México e Canadá. Ora, o problema é primeiramente interno. Se não houvessem consumidores, não haveriam exportadores. A lei da oferta e da procura vai ser quase impossível de ser revogada, teriam de serem buscadas soluções alternativas, e em conjunto com esses países, que também não desejam que tais substâncias trafeguem pelos seus territórios, mas o que nosso candidato a “imperador do mundo” interessa é apontar para outros países, inclusive aliados históricos, seus próprios problemas.

Tenho a firme convicção de que a sociedade americana está socialmente doente: o tão propalado “sonho americano” de um futuro de prosperidade e hegemonia sobre todos os outros países está chegando num beco sem saída. O eterno endividamento dá sinais evidentes de estar no fim. Os empregos prometidos nunca vão chegar, pelo menos da forma prometida, eles já foram para a Ásia. O emprego acaba, mas o trabalho não, e a ideia americana de que eles retornem nada mais é do que uma falácia, e infelizmente os americanos foram “doutrinados” a serem prósperos e bem sucedidos, mas não tem a qualificação necessária para o serem numa sociedade desigual e excludente. Resultado: se o cidadão não conseguiu enriquecer até os 50 anos, ele é um fracassado por sua própria culpa, e isso gera um país com milhões de cidadãos que se sentem eles mesmos fracassados, enquanto o real problema está nessa educação que o fez acreditar nessa irrealidade. A consequência é que esse se refugia num milagre que não vai cair do céu, nas drogas e nas promessas de um falso messias. O resultado, se não já chegou, chegará em breve.

E não há nenhum Franklin Delano Roosevelt à vista, que com seu programa de obras públicas, o “New Deal”, amenizou a Grande Depressão de 1929, que acabou somente com a Segunda Guerra Mundial. Uma Terceira duraria poucas horas e podem não haver muitos sobreviventes…

Enquanto isso, o fentanil, o suicídio, o fundamentalismo, e até uma possível guerra civil ficam pairando sobre o que eles chamam de “América”

Cajazeiras, 19 de setembro de 2025.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Saulo Péricles

Saulo Péricles

Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira (Pepe): Engenheiro Mecânico, especializado em engenharia de segurança do trabalho, Advogado, Perito em segurança do Trabalho e Assessoria Jurídica, membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.

Contato: [email protected]

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Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira (Pepe): Engenheiro Mecânico, especializado em engenharia de segurança do trabalho, Advogado, Perito em segurança do Trabalho e Assessoria Jurídica, membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.

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