Padre Heliodoro Pires: o salvador da memória de Cajazeiras

Por José Antonio – O ano era 1915 e no solo seco do sertão não caia um pingo de chuva. A seca estava anunciada. Os flagelados imploravam clemência. Eram muitas as criaturas humanas, bamboleando de fome batendo às portas dos que tinham um pedaço de pão para dar como esmola.
Neste mesmo ano tomava posse como primeiro bispo de Cajazeiras, Dom Moisés Coelho, no rincão árido do sertão, onde se refugiou Padre Rolim para viver uma vida dedicada à missão evangelizadora e a causa da educação.
Como bispo, para a recém criada Diocese, trouxe consigo o Padre Heliodoro de Sousa Pires, para assumir a função de secretário da nova circunscrição eclesiástica.
O jovem padre gostava de estudos históricos e havia passado 16 anos da morte de Padre Rolim e as pessoas ainda guardavam lembranças do glorioso missionário das letras e do saber, que encheu os sertões com seus ensinamentos. Fez pesquisas e ouviu pessoas e leu documentos e ao concluir, publicou um livro sobre o Padre Rolim, escrito para o Congresso de História Nacional no Centenário da Revolução de 1817, com uma carta-prefácio do Barão de Sturdat.
Não fora a determinação e a iniciativa de Padre Heliodoro Pires, dando ciência ao Nordeste da existência e da dimensão profética ligada à missão educativa deste sacerdote, pouco ou quase nada se sabia de Padre Rolim. Cajazeiras deve muito a este ilustre sacerdote.
Padre Rolim foi formado no celeiro da agitação política, onde foi gestada uma dolorosa revolução, mas o mesmo nunca se envolveu em qualquer movimento armado, nem pertenceu a qualquer facção política.
Enquanto Frei Caneca, cujo nome completo era Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca, padre carmelita, jornalista, escritor e político brasileiro, conhecido por seu envolvimento em movimentos revolucionários e por sua defesa da república e desempenhou um papel crucial na Revolução Pernambucana de 1817 e foi um dos principais líderes da Confederação do Equador em 1824, um movimento que buscava a autonomia das províncias do Nordeste e a instauração de uma república, Padre Rolim preferiu fazer sua “revolução” com uma caneta nas mãos e Frei Caneca acabou sendo executado por fuzilamento no dia 13 de janeiro de 1825, no Recife, após ser condenado pela sua participação na Confederação do Equador, um movimento separatista e republicano que defendia a autonomia das províncias do Nordeste contra o poder central do Império.
Já outro grande religioso nordestino, contemporâneo de Padre Rolim o Padre Ibiapina, Nascido em Sobral (CE), em 5 de agosto de 1806, trilhou uma vida singular antes de se dedicar integralmente à Igreja. Após abandonar o seminário de Olinda em 1823, em decorrência da morte de sua mãe, formou-se em direito e exerceu cargos como juiz, delegado e deputado, destacando-se como presidente da Comissão de Justiça Criminal no Parlamento Nacional, em 1834 e desiludido com as limitações do sistema judiciário, renunciou à carreira pública e, em 1850, retomou sua vocação religiosa. Ordenado sacerdote em 1853, passou a servir aos mais pobres, sendo conhecido como “peregrino da caridade” durante a epidemia de cólera que assolou o Nordeste.
Estes três grandes líderes religiosos trilharam caminhos diferente para fazer valer as suas idéias: Ibiapina, pela caridade; Frei Caneca pelas armas e padre Rolim pela caneta.
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